Covarde
Se a vida fosse eterna
Eterna seria a dor
Eterna seria a tristeza
Eterna seria a angústia
E eterno o anseio pelo fim
A eternidade é o inferno
Que nossa covardia deseja
Temeroso aquele que busca remissão
Desta imerecida pungência
Temeroso aquele que busca anestesia
Desta finita maldita punição
Nesta viagem vã
Por entre escolhos e entulhos
Por entre cacos de gente viva e morta
Sangramos em demasia
Temos medo de usar a anestesia
Mas quando cessar nossa dor
Quando redimidos pela foice
Vê: só nosso corpo se esfacelou
E de nós ainda resta o eterno o punhal
Que nosso coração sempre abrigou
Posto que redimidos de nossa dor
Este punhal faz outrem sofrer
Nossa paz exige a vingança
Pela qual a vida sofre por viver
Pois maldita bênção é a finitude
De nossa desditosa aventura!
Nesta luta para viver a dor
A serenidade da foice ousa por nós
Aquilo que a covardia nos proíbe amar
Espero de braços abertos
Minha derradeira anestesia:
Adormecer a dor deste punhal
Cravado no peito de uma vida terminal
Adoeço preso no sonho deste momento
E covardemente estou à espera do final
Que a foice me mate com a paz imortal.
André Díspore Cancian
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